Galera

Galera
A maior parte dos seres humanos, por preguiça e comodidade, segue o exemplo da maioria. Pertencer à minoria é tornar-se vulnerável, expor-se à critica. Tomar consciência da normose e de suas causa constitui a verdadeira terapia contemporânea. Trata-se, também, do encontro com a liberdade. Seguir cegamente as normas é tornar-se escravo. Roberto Crema

Esse é nosso lema!!

Esse é nosso lema!!
ESSE É NOSSO LEMA!!!! "A amizade é uma alma que habita vários corpos. Um coração que habita várias almas" Aristóteles

BOAS VINDAS!

Querer mudar o mundo é um desejo saudável e totalmente necessário. " Para ser feliz, o ser humano precisa somente de duas coisas: cultivar sementes de paz em seu coração e ter bons amigos. " - Buddha

Espaço da Galera!!!!!!!!!!!!!!!!!!

As coisas mais simples são os melhores presentes.

Leveza pra conduzir a vida; Beleza, que vai muito além da estética;

Determinação, porque sem ela nada acontece, nada;

Harmonia, paz e alegria sempre.

Silvana Mara dias Souza

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Receita de Ano Novo!

Um poema de Carlos Drummond de Andrade:
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.

sábado, 27 de dezembro de 2014

As mentiras que contam sobre nós!


Desconstruir o mito de que mulheres são todas inimigas é um passo importante no combate ao machismo. Por Aline Valek, no blog Escritório Feminista
por Aline Valek — publicado 22/05/2014 10:43, última modificação 22/05/2014 14:13
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Amigas

Foi isso que nos ensinaram: que não poderíamos confiar umas nas outras. Cochicharam em nossos ouvidos que mulher é tudo falsa. Nos disseram que as outras eram interesseiras, traiçoeiras, que roubariam nossos namorados, que tentariam chamar mais a atenção, que eram vagabundas, sempre uma ameaça.

Ensinaram a lição e mostramos que aprendemos quando dizemos que “mulher trabalhando junta não presta”, ou quando nos orgulhamos ao dizer “não tenho amigas mulheres”, ou quando odiamos aquela garota sem motivo algum, ou todas as vezes que julgamos a sexualidade da colega ou ainda quando atacamos, humilhamos ou desprezamos a outra apenas para buscar as migalhas da aprovação masculina.

Como pudemos acreditar nessas mentiras por tanto tempo?

É tentador acreditar que “somos diferentes das outras” para tentar colher as recompensas por ser uma “boa garota”. Eu sei. O problema é que essas recompensas nunca virão. Se hoje odiamos as outras mulheres e não hesitamos em julga-las, atacá-las ou exclui-las, nada impede que amanhã os dedos que apontam para elas se voltem para nós mesmas. Hoje, a vagabunda é a “outra”; amanhã pode ser eu ou você. Nenhuma de nós está imune – e por isso mesmo, por mais diferentes que sejamos, há muito mais em comum entre nós do que você possa imaginar.

Colocaram entre nós essa espessa cortina de rivalidade para que não sejamos capazes de nos enxergar de verdade. Para nos isolar. Para que, divididas, nos enfraqueçam. Consegue imaginar a quem isso possa interessar? Se eu e você sempre nos considerarmos inimigas, vamos poder esquecer de combater as estruturas da sociedade feitas para nos manter nos nossos devidos lugares. Se eu e você nunca nos considerarmos aliadas, seremos mais facilmente vencidas. Parece até teoria da conspiração, mas basta olhar ao seu redor. Basta olhar para a sua própria vida.

Então está na hora de tentar ver além dessa cortina e, ao invés de olhar para o que nos difere, tentar encontrar aquilo que nos aproxima. Talvez você se surpreenda ao encontrar do outro lado não esse estereótipo odioso que nos venderam, mas uma mulher igual a você. Um ser humano tão único, multifacetado, com falhas e atributos positivos, assim como você mesma.

Mas tome cuidado: transpor essa cortina, apesar de simples, é algo tão poderoso que vai deixar muita gente nervosa. Terão ataques de raiva, vão querer te ridicularizar, te calar, fazer você voltar para o seu estado anterior. Para muita gente, nada que mude pode ser algo bom. Mas você pode imaginar o motivo, né? Normal que essa gente fique tão insegura. Afinal, quando descobrimos que não precisamos lutar umas com as outras, podemos fazer coisas incríveis.

Imagine quanta coisa pode ser diferente se, ao invés de cerrarmos os punhos, estendermos a mão para aquela outra mulher. Imagine poder olhar para nossas irmãs negras, brancas, indígenas, jovens, velhas, cissexuais, transsexuais, heteros, bi, lésbicas, magras, gordas, com ou sem deficiência, baixas, altas e ver que mesmo com tantas diferenças há algo profundo que nos conecta.

Com essa simples mudança de atitude e de pensamento vamos rasgar em mil pedacinhos e ainda sapatear em cima de uma das mais perversas mentiras que contam sobre nós. E, de quebra, ainda podemos conhecer novas amigas. Mulheres com quem vamos poder nos divertir, compartilhar momentos e contar com elas para o que der e vier.

Que possamos mandar um recado para as outras mulheres e não seja de ódio, desprezo ou julgamento; mas um “estamos juntas”. Porque juntas somos mais fortes para combater as armadilhas machistas do nosso mundo. Porque só juntas sobreviveremos.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Sobre desapego!

Bom dia...Pra refletir...
Linda mensagem:
Partirei desta vida sem um níquel sequer... Tudo o que veio a mim, em matéria de dinheiro, simplesmente, passou por minhas mãos. Graças a Deus, a minha aposentadoria dá para os meus remédios... Roupas?! Os amigos, quando acham que eu estou malvestido, me doam... Sapatos, eu custo a gastar um par... Em casa, a nossa comida é simples... Não tenho conta bancária, talão de cheques, nenhuma propriedade em meu nome, a não ser esta casa que eu já passei em cartório para outros, tenho apenas o usufruto... Nunca tive carros, nem mesmo uma carroça... De modo que, neste sentido, nada vai me pesar na consciência. Fiz o que pude pelos meus familiares, se não fiz mais, é porque mais eu não podia fazer... Nunca contei o dinheiro que trazia no bolso, mesmo aquele que alguns amigos generosos colocavam no meu paletó...
-Chico Xavier

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Que tal experimentar a vida de braços bem abertos?

O que nos impede de nos atirarmos com confiança para as experiências do mundo? Por que temos tanto medo de nos entregarmos num relacionamento? E, mais que tudo, será que dá para mudar esse nosso eterno pé atrás com a vida?


Reportagem: Liane Alves - Edição: Amanda Zacarkim

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Você já pensou no que te impede de se entregar por inteiro na vida?
Ilustrações: Gunther Ishiyama | Fotos: André Spínola e Castro
O que faz alguém se lançar no mundo com coragem, determinação e alegria? A confiança - e a própria palavra tem em si mesma o segredo de como ela nos dá essa força que permite ultrapassar os próprios limites e medos para acreditar na begnidade da existência. Confiar vem do latim con fides, isto é, com fé. A confiança, portanto, é uma questão de fé. A gente pensa que a fé pertence ao universo da religião, mas não é só isso. É a fé que nos preenche o coração na hora de nos atirarmos num projeto, nos entregarmos em relacionamentos. Não se pode saborear plenamente a vida sem fé. Ela é nosso mais poderoso catalisador de energias.
E fé é muito mais que crença ou dedução de um raciocínio lógico. Ela é incondicional e, basicamente, um exercício dinâmico de coragem. E coragem, como o próprio nome diz, é ter o coração na ação. Quando colocamos o coração naquilo que fazemos, somos impulsionados pela fé, pela confiança. Ultrapassamos assim uma série de bloqueios e obstáculos, internos e externos, com resultados impossíveis de serem atingidos sem sua presença.

Por isso a confiança é tão poderosa. Dezenas de pesquisas mostram que a fé é decisiva para a manutenção da saúde, por exemplo. Pode ser tanto a fé em Deus quando a fé na vida, num sonho, num projeto. "Ela é fundamental para nossa saúde física e psíquica", diz Sueli Gevertz, psicóloga e coordenadora de comunicação da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Couraças musculares

Contudo, em algumas situações, experimentamos o principal motivo da perda da confiança e da coragem de estar de peito aberto: o medo da dor. Esse temor, segundo o criador da bioenergética, Wilhelm Reich, vai se refletir no corpo formando couraças musculares, que são a corporificação física dos nossos medos e defesas. O medo, como as couraças, é necessário na vida, porque nos protege e nos ajuda a sobreviver. "O que não pode é sempre querer enxergar a existência apenas através dele", diz a psicoterapeuta corporal paulista Irene Cardotti, especializada em bioenergética e terapia ocular. Isto é, há o momento da couraça, do escudo e da defesa, como também existe a hora do peito aberto e da entrega. E como fazer essa escolha com sabedoria?

Uma das respostas é se manter firme sobre seu próprio eixo. "Quando a gente tem os pés bem plantados no chão, está firme, seguro. Temos confiança porque sabemos que não é qualquer coisa que vai conseguir nos derrubar", diz Irene.

Outra saída para dissolver as couraças é ativar o corpo com exercícios de flexibilização, como ioga, tai chi, dança, circo, alongamento e práticas de bioenergética. E saber descarregar o excesso de energia na terra, andando descalços, por exemplo. "É preciso aprender a reconhecer que não podemos carregar pesos emocionais em excesso. Eles podem se acumular no corpo, na couraça dos ombros, por exemplo, e a gente fica como se fosse o gigante Atlas, carregando o mundo nas costas, curvado, tenso, incapaz de abrir os abraços, mostrar o peito e confiar no mundo", afirma a psicoterapeuta.

Mas o que dizer se realmente a gente foi muito machucado durante a vida? Como voltar novamente a confiar no mundo? Podemos fazer isso a partir de nós mesmos: reaprender, aos pouquinhos, a nos presentearmos com pequenos prazeres, apostar de novo em nossos sonhos e ideais, descobrir novos talentos e dar um voto de confiança ao futuro. Talvez seja preciso terapia ou a ajuda de um grupo de apoio, mas o caso tem solução e certamente o sol poderá voltar a brilhar outra vez.

Como água no vasilhame

Quando se mora quase 30 anos fora do Brasil em nove países diferentes, enfrentando realidades tão distintas quanto a de belas cidades de pedra do século 17 na Bélgica ou o ambiente úmido da floresta amazônica no Suriname, é preciso ter uma confiança básica e elementar na vida. É o caso de Mônica Vilhena, que foi oficial de chanceleria do Brasil no exterior. Ela tem uma maneira poética de se expressar sobre esse assunto: A confiança é como a água, que se adapta a cada vasilhame. Ela está sempre ali, independentemente do que acontece. A situação pode mudar que ela não desaparece nem muda de volume, diz ela. "Essa é a confiança verdadeira", assegura Mônica, que tem a humildade e a abertura necessárias para se adaptar a diferentes cenários. Ela enxerga o sucesso e a realização em cada situação e não vê a vida como uma sucessão de êxitos e fracassos. "Por isso, não se pode perdê-la nunca", diz.

Para manter essa maneira de encarar a vida, Mônica se apoiou na sabedoria do corpo. Há 22 anos pratica e ensina biodanza, método criado pelo antropólogo chileno Rolando Toro. Apreendeu a sentir as dores emocionais sem sucumbir e a resgatar uma confiança na vida, com base, principalmente, em movimentos corporais. É só olhar para uma pessoa confiante: ela diz isso fisicamente, por meio de suas expressões corporais. "E o primeiro passo para viver isso é se apoderar do próprio corpo, vivenciá-lo, senti-lo e liberar as dores emocionais que podem estar aprisionadas nele. Isso é muito curativo", afirma a instrutora.

"A pessoa que confia está a léguas de distância daquele otimista insuportável que sempre acha que tudo vai dar certo", afirma a psicoterapeuta carioca Natália Assunção. O otimista quer que as coisas dêem certo, custe o que custar. Já a pessoa confiante exala naturalidade, graça, leveza e não é obsessiva, diz Natália.

Então é isso: quem confia se sente seguro e tem fé na vida, não importando o que vai acontecer. Prepara-se, física e psicologicamente, tem ajuda ou pede por ela, treina muito e depois de um baque, é até capaz de dançar com um sorriso sobre o próprio fracasso.

Livros para saber mais
Do Desabrigo à Confiança, Bile Tati Sapienza, Escuta
Fontes da Força Interior, Anselm Grün, Vozes
Construa Confiança, Robert Solomon e Fernando Flores, Rocco

sábado, 27 de setembro de 2014

Quer mudar de vida, mas não sabe por onde começar?


Muitas pessoas que visitam a ecovila onde moro ou leem este blog costumam me perguntar como eu consegui fazer tantas mudanças de vida para chegar até aqui, isto é, morar no mato e ter uma vida que é considerada tranquila e serena, na visão de quem observa de fora. Em primeiro lugar, continuo caminhando, um passo de cada vez, e ainda há muito a fazer – o que é algo bom, se pensarmos que a vida é feita de impermanências que nos mantêm despertos! Em segundo, não dá para dar uma receitinha pronta, com ingredientes, modo de preparo e tabela nutricional. Isso seria transformar este espaço de troca e de histórias pessoais em um pretensioso e descabido guia de autoajuda.
Ainda assim, de tanto sentir que há um desejo latente em muitas pessoas de dar uma guinada na vida, um giro de 180 graus, quiçá trocar o escritório pela horta no sítio ou a casinha na praia e o ateliê de artesanato, enfim, fiquei pensando e refletindo sobre minha trajetória (lenta, por sinal) e sinto que poderia, com a humildade necessária a toda espécie de conselho, destacar algumas atitudes que parecem favorecer os processos saudáveis de mudanças de vida.
Uma pergunta que eu costumava me fazer com frequência era: “o que realmente me deixa insatisfeita”? Em geral, temos a tendência de colocar todo o nosso cotidiano no mesmo balaio que diz que tudo está chato, estressante ou desinteressante. Mas é preciso olhar com calma para destacar, se possível, o principal ponto, aquele que pode ser a chave para o início de uma jornada de transformações.
Foi assim que descobri – não tão facilmente – que o que me deixava mais incomodada era a obrigação de cumprir horários rígidos no trabalho, ter que chegar sempre no mesmo horário, cumprir as horas exigidas e, no fim do dia, ainda me sentir sem graça de ir embora sem fazer, pelo menos, uma horinha extra para mostrar meu interesse em “crescer na empresa” – e, com isso, gastar todo o meu dia no trabalho.
Naquele momento, se eu ficasse pensando sobre os problemas da cidade que me irritavam no caminho para o trabalho (o trânsito caótico, a poluição sonora e atmosférica, o metrô lotado ou os restaurantes barulhentos que serviam comida para ser devorada em cinco minutos), provavelmente eu perderia o foco e correria o risco de achar que mudar de casa e ficar mais perto do escritório poderia resolver meus problemas.
Eu não precisava encurtar o trajeto para o trabalho. Eu queria era acabar com ele, trabalhar de casa, tirando proveito da internet e das facilidades tecnológicas que criamos para, supostamente, termos mais tempo livre, lembra? E, claro, ir até a empresa pontualmente, para uma reunião importante ou algo do gênero, e ter liberdade eautonomia para administrar meu tempo por conta própria.
Para conquistar essa meta, esquivei-me de planos de carreira e recusei trabalhos com salários até maiores. Mas fiz isso com consciência e clareza na minha proposta. Pus no papel os gastos que eu tinha com todo tipo de consumo ligado ao ambiente profissional (combustível, estacionamento, roupas, sapatos, acessórios, celular bacana, uma maquiagem “decente”, cursos que davam certo status, almoços mais caros, livros, happy hours com colegas etc. etc. etc.).
A conclusão – veja que óbvia – era que se eu trabalhasse em casa, boa parte desses custos seria simplesmente abolida. Em outras palavras, eu poderia ganhar menos e ainda assim ter o suficiente para levar uma vida mais agradável. Eu tinha essa convicção e ela sempre me ajudava nas bifurcações que eu ia encontrando pelo caminho.
Aos poucos, fui, então, diminuindo minhas horas na empresa para dois dias por semana, priorizando projetos que possibilitavam esse distanciamento, até que, uns dois anos depois, conquistei o sonho do home office – e, com ele, além da possibilidade incrível de mudar de endereço e até de cidade sem perder o trabalho, surgiram novos desafios: aprender a me organizar, ter mais disciplina, saber “encerrar o expediente” e “voltar para casa”, dar uma pausa no dia para um passeio no parque sem culpa etc.
O que quero dizer é que toda mudança gera uma série de outras mudanças. E será preciso prestar atenção e perceber se os efeitos daquilo que queremos conquistar podem incluir aspectos que não gostaríamos de mudar. Por exemplo: se eu gostasse muito de trabalhar em um ambiente com mais pessoas, curtindo os breves intervalos para um cafezinho com os colegas, talvez eu me sentisse entediada em meu solitário novo escritório…
É complicado: você quer mudar de vida, mas não quer abrir mão do que chama deconforto, ou quer morar numa cidade menor, mas não pode ficar um fim de semana sem visitar uma grande livraria ou ir ao cinema. Ou quer o sossego do sítio, mas morre de medo do escuro, não suporta estrada de terra e tem pavor de cobras e aranhas. São coisas incompatíveis…
É engraçado dizer isso, mas pode acreditar: tem muita gente que sonha em morar na praia, mas nunca parou para pensar sobre o quanto detesta picadas de mosquito, mofo nos armários e fila de turistas na padaria da esquina. Por isso, cuidado com o que você quer, porque você pode conseguir e, após a fase inicial de encantamento, ter de se deparar com o pesadelo do arrependimento.
Observando o que já vi acontecer com amigos e pessoas mais próximas, sinto que o mais difícil não é conseguir mudar, mas sim saber traçar uma boa meta (ou seja, uma meta adequada a você e seu jeito de ser e de se imaginar no futuro). Você precisa, antes de qualquer coisa, saber se o que você quer é realmente o que você quer! Simples assim…
Se o plano é descomplicar a vida e levar uma rotina mais simples, por exemplo, você precisa avaliar o quanto gosta de estar sempre na moda, de comprar peças novas todo mês, passear entre vitrines, comprar revistas especializadas, assistir a programas temáticos na tv, essas coisas. Se quer trocar o carro pela bike, que tal experimentar primeiro se desapegar do cabelo impecável de salão? Se realmente quer morar longe do centro urbano, seria bom testar sua capacidade de ficar sem os serviços de entrega de comida rápida e de improvisar uma refeição saborosa, mesmo estando cansado ou sem inspiração para o fogão…
Imagine-se vivendo a mudança que deseja fazer. Como seria sua rotina? O que você estaria fazendo agora? Com quem? Com que propósito? De uma coisa tenho quase certeza: todo mundo quer melhorar de vida. Mas poucos, hoje, saberiam fazer o pedido certo ao gênio da lâmpada, porque a maioria ainda continua querendo trocar uma vida de ilusão (ligada ao consumo, status e prestígio social) por outra vida de ilusão (desta vez, relacionada à falsa ideia de paraíso na terra, refúgio bucólico ou reencontro com a natureza onírica)…
Meu convite, então, é para que você pense sobre isso com amorosidade e honestidade. Mudar de vida é bem mais fácil do que parece, desde que, antes, você tenha construído uma ponte bem estruturada para ligar o seu desejo a uma nova e mais gentil realidade. Por Giuliana Capello

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Respeito...

"Respeito minhas raízes. O lar de onde vim e a casa onde moro. O que me alimenta. E as roupas que me vestem.
Respeito o meu corpo. O natural dos meus cabelos. Meu tipo físico. O formato do meu rosto. E a cor dos meus olhos.
Respeito a minha personalidade. A risada estranha que eu tenho. As lágrimas que aparecem espontaneamente. Os braços tão sempre carregados de abraços. E a teimosia de buscar sempre andar de mãos dadas com a liberdade.
Respeito os meus sonhos. O direito que tenho de lutar por aquilo que acredito. E mudar de opinião quando eu ver que aquilo que penso, já não faz mais sentido.
Respeito as músicas que ouço. Os livros que leio. Os momentos que fotografo. E filmes e peças de teatro que assisto.
Respeito o que sou. Respeito a minha essência, por ter consciência de que sou uma parte única no segredo do Universo.
E por saber da sua singularidade como um ser, dotado de vida, eu te respeito também."
▬ Miyahara, S.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Aposte na simplicidade para ser feliz!

Há diversas maneiras de ser simples. Encontre a ideal para você e seja feliz!

Autor: Eugenio Mussak 
Aprenda a diferença - essencial - entre ser simples e ser simplório
Foto: Daniel Aratangy / Ilustração Buia
Felizmente existe a ideia da simplicidade, e esta é, digamos, simples desde sua origem. A palavra é formada por duas outras de origem latina: sin, que significa único, um só, e plex, que quer dizer dobra. Ser simples significa ter uma só dobra, ao contrário do complexo, que tem várias. Simples! 
Simplificar significa evitar a complexidade e criar uma vida sem mistérios? Há uma diferença fundamental entre ser simples e ser simplório. Os simples resolvem a complexidade, os simplórios a evitam. Eu conheço pessoas sofisticadas, intelectualizadas, que levam uma vida plena, realizam trabalhos difíceis, apreciam leituras profundas e têm hábitos peculiares. E continuam sendo pessoas descomplicadas. Conheço também pessoas simplórias, com pouca profundidade, que realizam trabalhos repetitivos, que têm poucas ambições, que apreciam rotinas e evitam os sustos de uma vida aventurosa. E mesmo assim são pessoas complicadas, para elas tudo é muito difícil, em geral impossível.

Não há um paradoxo em construir uma vida simples em meio à vida moderna, cada vez mais exigente? Hiroshi criou a Ecovila Clareando, uma comunidade autossustentável no interior de São Paulo que atrai gente comprometida com a natureza e com seus valores, como a sustentabilidade, sem a ingenuidade das "sociedades alternativas" de antigamente, mas tendo a simplicidade como filosofia. Ele planta e produz praticamente tudo o que precisa para se alimentar, domina as técnicas de construção ecológica e de produção de energia limpa. Mas não é um isolado, viaja, participa de congressos, dá palestras, toca violão, compõe músicas. E é alegre em tempo integral.

Goldberg é professor da New York University, onde faz pesquisas sobre o cérebro humano, e consegue falar sobre seu funcionamento de maneira compreensível. Escreveu alguns livros, entre eles O Paradoxo da Sabedoria, em que afirma que, apesar do envelhecimento do cérebro, a mente pode manter-se jovem. Seus textos são o melhor exemplo de como se pode simplificar o complexo, pois são sobre neurofisiologia, mas qualquer um entende.

Eu não poderia imaginar vidas mais diferentes e, ao mesmo tempo, mais parecidas. Ambos carregam uma leveza própria das pessoas que decidiram não complicar, sem abrir mão de seus desejos, projetos, pequenos luxos, enfim, da vida normal. Pessoas assim, que fazem a opção da simplicidade, têm alguns traços comuns. Identifico cinco deles:

1. São desapegadas: não acumulam coisas, fazem uso racional de suas posses, doam o que não vão usar mais.

2. São assertivas: vão direto ao ponto com naturalidade, mesmo que seja para dizer não, sem medo de decepcionar, não "enrolam" nem sofisticam o vocabulário desnecessariamente.

3. Enxergam beleza em tudo: em uma flor no campo e em um quadro de Renoir; em uma modinha de viola e em uma sinfonia de Mahler; em um pastel de feira e na alta gastronomia.

4. Têm bom humor: são capazes de rir de si mesmas e, mesmo diante das dificuldades, fazem comentários engraçados, reduzindo os problemas à dimensão do trivial.

5. São honestas: consideram a verdade acima de tudo, pois ela é sempre simples e, ainda que possa ser dura, é a maneira mais segura de se relacionar com o mundo.

Ser simples, definitivamente, não é abrir mão de nada. É possível apreciar o conforto, a sofisticação intelectual, as artes, o prazer da culinária, a aventura das viagens e continuar sendo simples.

Pois ser simples não é contentar-se apenas com o mínimo para manter-se fisicamente vivo, uma vez que não somos só corpo, também somos imaginação, intelecto, sensibilidade e alma. E esta última é, sim, simples, mas não é pequena, a não ser, é claro, que a pessoa queira.

sábado, 9 de agosto de 2014

SER PAI …

SER PAI …

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Pai de verdade mesmo sabe que ser pai não é simplesmente recolher o fruto de um momento de prazer, mas sim perceber o quanto pode ainda estar verde e ajudá-lo a amadurecer.
Pai de verdade mesmo não só ergue o filho do chão quando ele cai, mas também o faz perceber que a cada queda é possível levantar.
Ele não é simplesmente quem atende a caprichos: ele sabe perceber quando existe verdadeira necessidade nos pedidos.
Pai de verdade mesmo não é aquele que providencia as melhores escolas, mas o que ensina o quanto é necessário o conhecimento.
Ele não orienta com base nas próprias experiências, mas demonstra que em cada experiência existe uma lição a ser aprendida.
Pai de verdade mesmo não coloca modelos de conduta, mas aponta aqueles cujas condutas não devem ser seguidas.
Ele não sonha com determinada profissão para o filho, mas deseja grande e verdadeiro sucesso com sua real vocação.
Ele não quer que o filho tenha tudo que ele não teve, mas que tenha tudo aquilo que merecer e realmente desejar.
Pai de verdade mesmo não está ali só para colocar a mão no bolso para pagar as despesas: ele coloca a mão na consciência e percebe até que ponto está alimentando um espírito de dependência.
Ele não é um condutor de destinos, mas sim o farol que aponta para um caminho de honestidade e de bem.
Pai de verdade mesmo não diz “faça isto” ou “faça aquilo”, mas sim “tente fazer o melhor de acordo com o que você já sabe”.
Ele não acusa de erros e nem sempre aplaude os acertos, mas pergunta se houve percepção dos caminhos que levaram o filho a esses fins.
Pai de verdade mesmo é o amigo sempre presente, atento e amoroso – com a alma de joelhos – pedindo a Deus que o oriente na hora de dar conselhos.
Feliz Dia dos Pais!
http://omundodegaya.wordpress.com/2014/08/09/ser-pai-de-verdade/

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Uma pequena joia.

Martha Medeiros

30/07/2014 | 05h01
Não sei se é de família ou hábito apenas da minha mãe, só sei que, entre nós, qualquer preciosidade é chamada de joia. Pergunto para minha mãe sobre um filme ou sobre um lugar que ela conheceu, e se ela responde que é bonito é porque é bonito, se responde que é interessante é porque é interessante, mas quando ela diz “é uma joia”, logo me sento e me disponho a ouvir os detalhes. 

E ela não diz joia referindo-se àquela gíria que não se usa mais. Se ela diz que é uma joia, é algo especial, em que se deve prestar atenção. E se ela diz: “É uma pequena joia”, aí é porque a coisa é grandiosa mesmo. 

Em casa sempre rezamos pela cartilha do “menos é mais”, preferindo as pequenas joias em detrimento das ostentosas. Um discreto ponto de luz, um brilhante comedido, algo que reina sem pompa, o clássico que não se pavoneia, a elegância que não é extravagante: isso.  

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Amigo: o seu bem mais valioso!

Sejam de infância, de chopp ou de confidência, amigos nunca foram tão importantes na vida como hoje



Texto: Com a vida dura que levamos, ter um amigo é ter um tesouro
Foto: Warner Bros. Consumer Products
A amizade é o relacionamento que tem mais a cara do nosso tempo. Ou talvez, mais ainda, do futuro. Livre, aberta, democrática, ela nos convida ao exercício da tolerância, da aceitação do outro exatamente como ele é. Além disso, nos faz provar um pouquinho do gosto do amor incondicional, aquele que não perde tempo em cobranças ou exigências. Ela é tão especial que, hoje, uma boa centena de pensadores, sociólogos, psicólogos e antropólogos se dedica inteiramente ao seu estudo.
Refúgio
A amizade tem uma dimensão muito maior agora do que, digamos, 50 anos atrás. Naquela época, boa parte do tempo livre das pessoas era ocupada pela família, com seus aniversários, casamentos, festas de Natal e intermináveis almoços de domingo. Hoje, a família numerosa fragmentou-se.  Além disso, os relacionamentos amorosos, outra fonte de grande interesse, já não duram tanto tempo como antigamente. O afeto dos amigos tornou-se, então, um refúgio.
Outro motivo para a alta crescente da amizade: a vida anda muito dura. A sociedade estimula o individualismo, a competitividade, a agressividade e a intolerância com a diferença. Exatamente por isso, aumenta a cada dia a sede das pessoas por valores mais humanos, como amor, confiança, respeito, tolerância e solidariedade, qualidades presentes em abundância nas relações entre amigos. Se não temos mais a família consangüínea para nos abastecer de compreensão e carinho, se a relação entre casais é cada dia mais instável, quem senão os amigos para fazer esse papel?
E mais um fator aumenta a importância desse sentimento: "Os vínculos de amizade tornaram-se um campo de experimentação da sociedade, um laboratório onde ela gesta os relacionamentos do futuro", diz Jorge Forbes. Isto é, a abertura, a aceitação e a flexibilidade que caracterizam as relações entre amigos serão cada vez mais comuns no trabalho, na família e na sociedade, afirma ele. Pais mais amigos, maridos e esposas mais amigos, chefes mais amigos. Um belo futuro.
Amigo é um ser diferente de nós
O próprio conceito de amizade já mudou muito. Antes, amigo era o que pensava igual à gente. Hoje, é possível dar um passo à frente. "Amigo também pode ser uma pessoa muito diferente de nós. Posso aprender a respeitar e admirar a singularidade do outro, sem que ele precise ser igual a mim. Não só. Também posso aceitar minha singularidade, sem querer agradar os outros", diz Forbes.
Parece mesmo que as pessoas estejam começando a aprender a se aceitar melhor umas às outras, concedendo um pouco mais de espaço para suas manias, defeitos e incoerências. É só dar uma olhadinha num dos seriados de maior longevidade da TV americana, Friends. Os personagens são todos diferentes uns dos outros. O que nos une é a força da amizade. Ou seja, a capacidade de sair um pouco de si mesmo para olhar o diferente com mais carinho e aceitação.
Tipos inesquecíveis
Há diferentes graus de intimidade e compromisso na amizade. Há o amigo de grandes confidências e o amigo para ir ao cinema e tomar chope. Amigos de infância ocasionalmente também voltam para nossas vidas. E sempre vamos nos lembrar com carinho daqueles amigos que nos ensinaram uma grande lição, que deram um apoio num momento muito difícil ou ainda com quem dividimos aventuras significativas. Uma grande sabedoria é distinguir quem é quem: não trocar confidências com quem se tem uma relação rasa, não exigir que os amigos de infância fiquem para sempre, não esperar que conhecidos e camaradas sejam capazes de arriscar o pescoço por nós. Cada um é um, e o maravilhoso da amizade é exatamente essa sua relatividade elástica. Reconhecendo os limites e capacidades (e, por que não, as funções) de cada amigo, podemos prolongar e cultivar amizades por muitos anos. É prudente identificar essas diferenças.
Mas difícil de encontrar mesmo é o amigo companheiro. A palavra "companheiro" significa exatamente “aquele que divide o pão”. Esse amigo dá um braço por você,enfrenta o que der e vier por sua causa. E está sempre prestando atenção no que você pode precisar.

sábado, 19 de julho de 2014

SOBRE A MORTE E O MORRER por Rubem Alves

Vá em paz, mestre.
Obrigada!
SOBRE A MORTE E O MORRER,
Rubem Alves
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”
Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”
Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.
Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".
Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.
Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.
Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?
Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.
Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".
Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.
Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.
Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.
Vá em paz, mestre.

Obrigada!

SOBRE A MORTE E O MORRER, 
Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...” 

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...” 

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nada é Certo!

"Ninguém avança pela vida em linha recta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos vôo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar."
Henry Miller

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A ansiedade das escolhas!

Optar por isto ou aquilo faz parte da nossa rotina. Saber conviver com essas decisões pode ser libertador. Confira a reflexão!


Como escolher entre dois conjuntos de valores tão importantes?
Ilustração: Nik / Reprodução revista VIDA SIMPLES
"OK, então vamos esperar por sua escolha até amanhã de manhã. Pense bem antes de decidir."
A frase soou como uma ameaça. Eu tinha que decidir e não podia negar essa responsabilidade, já que corria o risco de perder tudo. Mas a escolha não era simples, pois, no fundo eu queria os dois. Um representava a liberdade, a aventura, a alegria de viver. O outro significava a sabedoria, o conhecimento, o futuro. Como escolher entre dois conjuntos de valores tão importantes? Como optar por um e abrir mão do outro que eu também queria tanto? Por que o destino estava fazendo isso comigo? Ó mundo cruel...
Mas não teve jeito, pois eu sabia que, se demorasse para decidir, ou não mostrasse firmeza em minha conclusão, não seria considerado maduro o suficiente para merecer nenhum dos dois. Acabaria tendo que me contentar com algum prêmio de consolação, e isso seria a pior coisa que poderia me acontecer naquela fase da vida. Então, armado de uma convicção artificial, comuniquei minha decisão:
- Então está bem, fico com a bicicleta! - e abri mão da enciclopédia.
Estávamos em véspera de Natal e eu tinha 11 anos. O que aconteceu naquela oportunidade foi uma espécie de iniciação à vida, que nada mais é que uma sucessão de escolhas. Parece que a única escolha que não fizemos foi a de nascer, porque daí para a frente, passada a primeira infância, começa nossa preparação para sermos responsáveis. Tem início o desenvolvimento de algo chamado "consciência", que, em última análise, é a autonomia para cuidar do destino, escolhendo os caminhos da vida. Amadurecer, descobri, é assumir a responsabilidade por suas escolhas.
Eu queria muito aquela bicicleta. Qual é o garoto que não quer? Desejava sair por aí, com os colegas ou mesmo sozinho, deslocando-me com rapidez, sentindo o vento, conhecendo outros bairros da cidade. Mas também estava de olho na tal enciclopédia, que, para mim, era uma espécie de passaporte para o conhecimento. Com a bicicleta, poderia passear pela cidade - pensava -, e com a enciclopédia, poderia viajar pelo mundo.
Prevaleceu a liberdade do vento, não a das letras, como seria de esperar de alguém que mal encerrava a primeira década de vida. E aquela bicicleta me deu muita alegria, acredite. Nunca me arrependi da escolha, até porque mais tarde, em outro Natal, a enciclopédia veio, ainda que não tenha vindo o aparelho de som - outra escolha/troca.
A tirania do"ou"
Um dos personagens mais explorados pela literatura alemã é o de um homem que fez uma escolha perigosa: Fausto. Ele foi inspirado em uma pessoa real, o médico Johannes Georg Faust, que viveu entre 1480 e 1540 e que era também estudioso de alquimia e magia. Sempre insatisfeito com o conhecimento disponível, ansioso por saber mais, acabou por dar origem a Fausto, que teve inúmeras interpretações na literatura germânica, sendo que a que predomina é a do mais importante escritor alemão, Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).
A primeira parte da versão de Goethe foi publicada em 1806 e conta que Fausto, querendo superar os conhecimentos disponíveis na época, ambicioso pelo saber, acabou fazendo um pacto com um demônio, Mefistófeles. Durante 24 anos ele não envelheceria, experimentaria todos os prazeres e teria acesso a conhecimentos novos. Tudo isso em troca de sua alma, que passaria a ser posse do maléfico pela eternidade.
Fausto aceita, pois seu desejo de saber é superior a tudo. O que ele não contava é que se apaixonaria por Margarida e, ao se ver perto de seu prazo, vê-se também obrigado a abandoná-la. O mito fáustico, em todas as versões, joga com a ideia da perda como subproduto da escolha. E essa perda pode ser desesperante, como no caso do personagem, ou pode ser, em sua versão mais humana, no mínimo, a causa de grandes ansiedades.
A ansiedade é, sim, um dos males da modernidade. Não há pessoa que não relate que é acometida, eventualmente, por uma "crise de ansiedade", caracterizada pela sensação de dúvida, incerteza, desconforto. A pessoa ansiosa gostaria de não estar onde está, ou pelo menos gostaria de não estar vivendo a situação que lhe causa ansiedade - mas, por outro lado, sabe que não tem como evitar. Todos somos ansiosos, em graus maiores ou menores.
E a causa mais comum de geração de ansiedade atualmente é, como vimos, a necessidade de fazermos escolhas. Sim, pois a cada escolha você tem que sofrer com as renúncias que ela acarreta. Essa é a tragédia da escolha. O imperativo do "ou". Ou isto ou aquilo, os dois não dá, explica a vida - e a gente aceita com resignação.
Escolher é trocar
A língua inglesa tem uma expressão que define bem a ansiedade da escolha: trade-off. Sem tradução literal, trade-off significa escolha, mas também quer dizer troca. Em síntese, escolher significa trocar uma coisa por outra. Ao escolher a bicicleta, abri mão da enciclopédia. Foi uma troca e, convenhamos, a melhor que podia ter feito naquela ocasião. No ano seguinte, troquei um aparelho de som novinho pela coleção de livros que esperei por um ano. E por aí vai.
Trade-off é uma expressão muito usada nas empresas, e faz parte do planejamento estratégico. Os empresários e executivos sabem que sempre há um preço a pagar. Por resultados, terão que fazer investimentos. Se buscarem inovação, terão que admitir alguns erros. Se optarem por economizar, terão que reduzir os investimentos. Na economia do país, se a opção for pelo controle da inflação, sabe-se que a taxa de crescimento será menor. "Não há almoço grátis", dizem os economistas. Trata-se de um postulado da economia que lança mão da obviedade que não dá para, ao mesmo tempo, comer a refeição e ficar com o dinheiro.
Um dos melhores exemplos de trade-off estratégico é encontrado não na economia, mas no jogo de xadrez - e, nesse caso, pode receber o nome de gambito, que não é, portanto, apenas o codinome das pernas finas.
Nesse jogo, gambito é o sacrifício de uma peça em troca de alguma vantagem, que pode ser outra peça ou espaço, desguarnecimento do adversário, linhas diagonais ou simplesmente tempo. O outro jogador pode aceitar ou refutar a oferta, pois sabe que há uma intenção por trás, uma espécie de jogada oculta. O Gambito do Rei é uma jogada em que o jogador de peças brancas oferece um peão logo no início do jogo e, aparentemente, desprotege o rei, mas, na prática, obtém uma liberdade de ações bem maior a partir disso, ganhando o domínio que vem da iniciativa. Tanto essa jogada quanto o Gambito da Dama são estratégias de quem sabe jogar e não de iniciantes sem técnica nem equilíbrio emocional.
Na vida também é assim, mas é claro que há variações importantes. Todos os dias fazemos escolhas soft, cujos enganos não provocarão maiores consequências. Se você errar no prato no restaurante ou no filme na locadora, ou se escolher uma roupa leve num dia em que faz frio, tudo bem, a encrenca não é tão grande assim. O complicado é errar nas escolhas hard, como a profissão, os investimentos ou a pessoa com quem se casar e compartilhar a vida. Felizmente, fazemos mais escolhas soft do que hard neste passeio pela vida.
A possibilidade do "e"
Mas nem tudo está perdido. Disse Einstein que nós não podemos resolver um problema usando o mesmo estado mental que o criou. É necessário buscar novas possibilidades, aceitar a existência de caminhos não vistos no primeiro olhar. E, nessa busca, sempre podemos contar com a possibilidade do "e" em vez do "ou". A inclusão como alternativa à exclusão.
Nem sempre dá, mas não podemos descartar essa possibilidade, e até contar com ela. Aliás, há situações em que essa é a única saída. Voltando a falar dos economistas e dos pensadores no futuro da sociedade humana, há um tema que gera muita polêmica. Trata-se da disputa entre crescimento da economia e a sustentabilidade do planeta.
Os que pregam o crescimento econômico são acusados pelos ambientalistas de não se preocuparem com a sustentabilidade do planeta, e estes são chamados por aqueles de patrocinadores do atraso. Durma-se com um barulho desses. Felizmente existem cérebros atuantes, cientistas, estadistas, pensadores que afirmam ser possível promover desenvolvimento protegendo a natureza. Desenvolvimento com sustentabilidade. Geração de riqueza e preservação do meio ambiente.
Para isso, claro, temos que falar de coisas novas, como reflorestamento, reciclagem, eficiência, novos materiais, pesquisa pura e aplicada, consumo consciente. Novos modelos mentais. Como se vê, fazer a opção pelo "e" requer investimento, tempo e inteligência. É mais fácil escolher um, ignorar o outro e tentar dormir tranquilo.
A inclusão é a solução ideal, quando possível. Senão, é necessário escolher e arcar com todas as consequências que fazem parte do pacote. O direito de escolher é atributo do mundo livre, o que é muito bom, claro. Nos países totalitários, em que ditadores comandam tudo com mão de ferro, a população não tem que fazer muitas escolhas, porque o estado faz por elas.
Viver com liberdade aumenta a responsabilidade e a ansiedade, mas viver sem ela aumenta o sentimento de impotência e o resultado pode ser a tristeza e a depressão. Sinceramente, se esse é o preço, fico com a ansiedade. E viva a liberdade de escolha.
* Eugenio Mussak não se arrepende de ter optado pela bicicleta e não pela enciclopédia