Galera

Galera
A maior parte dos seres humanos, por preguiça e comodidade, segue o exemplo da maioria. Pertencer à minoria é tornar-se vulnerável, expor-se à critica. Tomar consciência da normose e de suas causa constitui a verdadeira terapia contemporânea. Trata-se, também, do encontro com a liberdade. Seguir cegamente as normas é tornar-se escravo. Roberto Crema

Esse é nosso lema!!

Esse é nosso lema!!
ESSE É NOSSO LEMA!!!! "A amizade é uma alma que habita vários corpos. Um coração que habita várias almas" Aristóteles

BOAS VINDAS!

Querer mudar o mundo é um desejo saudável e totalmente necessário. " Para ser feliz, o ser humano precisa somente de duas coisas: cultivar sementes de paz em seu coração e ter bons amigos. " - Buddha

Espaço da Galera!!!!!!!!!!!!!!!!!!

As coisas mais simples são os melhores presentes.

Leveza pra conduzir a vida; Beleza, que vai muito além da estética;

Determinação, porque sem ela nada acontece, nada;

Harmonia, paz e alegria sempre.

Silvana Mara dias Souza

sábado, 5 de outubro de 2013

O encantamento com o fundamental.


"Agora há pouco, peguei uma fruta na cozinha. Uma ameixa. De tão suculenta, em segundos me vi apenas com o caroço na boca. E percebi, por acaso, que ele estava rachado. Abri o caroço com os dentes e me deparei com outro caroço dentro, o caroço do caroço.
Isso me fez pensar: a gente chega na essência das coisas por acaso?
Como saber se a gente esbarrou naquilo que há de mais fundamental?
Certos períodos da vida nos deixam assim, como que esbarrando nos caroços do mundo. Estou agora num desses instantes, muito permeável ao que acontece à minha volta.
Agora, mordendo o caroço dentro do caroço da ameixa, me deparei com um gosto difícil de descrever, o mesmo gosto que senti visitando os novos amigos, Mari e Dani – o gosto do encantamento com a realidade.
Quando valorizamos os encontros com as pessoas e, mais, com o mundo, um encantamento quase sublime nos arrebata, respingam sorrisos na boca, saltam arrepios na pele, espantos doces faíscam.
E do que é feita a educação senão da matéria dos encontros?
Ontem, relendo um livro do Paulo Freire, encontrei uma frase bem emblemática: Se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a educação pode.

Retomar o espanto e a contemplação atenta diante dos caroços dos caroços. E o encantamento não é deslumbre, vai além do verniz das coisas. Um encantamento genuíno não é ingênuo, é poético.
Como diz uma educadora que encontramos na jornada, a dona Maria Vilani, “meu maior objetivo é escrever um verso em cada vida que passa por mim”. Escrevendo versos uns nos outros, nos encantamos mutuamente, nos educamos interdependentemente.
Como não canso de repetir, obrigado a todos que compartilham essa jornada. Nesse caso, aliás, a palavra obrigado é eufemismo. Por isso, criei uma palavra nova para apreender melhor essa minha gratidão, à la Guimarães Rosa: obrigadimenso."

Adaptação do texto do Coletivo Educ-Ação.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

EU SEI, MAS NÃO DEVIA” [trecho]

Por Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.