PUBLICADO EM RECORTES POR MANU MARINHO
Sobre o que me leva ao mar, ou sobre o que dele levo em mim.
Eu era uma daquelas crianças que de vez em quando vemos nas praias; caminhando cambaleantes em direção ao mar, tropeçando nas pequenas dunas de areia e levantando, sempre com os olhos mirados n'água. Um peixinho, diziam. Em casa não quer tomar banho, ok. Cuidado, o mar não tem cabelo! Curiosidade, gosto, instinto; intuição primitiva. Mas somente há pouco tempo entendi o lugar que o mar ocupa em mim.
O mar tem suas marés. Às vezes acorda sereno e faz cócegas nas canelas da areia, escorrendo sonolento de volta pra dentro de si. Às vezes revolve-se, rebela-se, revolta-se; e cresce e enche: transborda-se. Mar deveria era ser adjetivo, feminino, plural. O mar é sempre vários, tal mulher regida de lua.
O mar é sempre vários, mas também é uno. Impossível confundi-lo com rio, ou com qualquer coisa que seja. Em cada ponta que é sua é outro: ora azul turquesa, ora verde claro, ora cristalino. Sua infinita finitude é reconhecida à distância, sua amplidão faz que seja irmão quase gêmeo do céu. O mar é ator de múltiplas e distintas faces.
O mar é como deve ser. Às vezes frio, congelante; é mistério pro olhar alheio. Mas pode ser quente e delicado, envolvente como um abraço. O mar é singelo. Não é terra, nem é ar: o mar é o caminho do meio.
O mar não tem nascente. Não se pode dizer onde começa ou acaba, pois é rota circular. Há tempos de abundância e a chuva faz festa no espelho deitado da água. E há os tempos sofridos, nos quais o sol só faz que maltrata, parecendo que tudo resseca. Mas sua matéria inevitavelmente renova, pois é a própria origem da vida. O mar, sempre, se recomeça.
Creio que eu, tal qual concha pequena, nasci no ventre do mar. Pois sinto, em cada reencontro, um recaminhar para mim. Pois sinto, a cada quebrar de ondas, a sincronia com as batidas do meu coração. Pois é na água salgado que antevejo, nítido, o meu mais completo reflexo e o meu mais infinito desejo de nadar pra dentro de mim.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/tanto_mar/2015/07/porque-sou-como-o-mar.html#ixzz3hWSs9YL0
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Sobre o que me leva ao mar, ou sobre o que dele levo em mim.
Eu era uma daquelas crianças que de vez em quando vemos nas praias; caminhando cambaleantes em direção ao mar, tropeçando nas pequenas dunas de areia e levantando, sempre com os olhos mirados n'água. Um peixinho, diziam. Em casa não quer tomar banho, ok. Cuidado, o mar não tem cabelo! Curiosidade, gosto, instinto; intuição primitiva. Mas somente há pouco tempo entendi o lugar que o mar ocupa em mim.
O mar tem suas marés. Às vezes acorda sereno e faz cócegas nas canelas da areia, escorrendo sonolento de volta pra dentro de si. Às vezes revolve-se, rebela-se, revolta-se; e cresce e enche: transborda-se. Mar deveria era ser adjetivo, feminino, plural. O mar é sempre vários, tal mulher regida de lua.
O mar é sempre vários, mas também é uno. Impossível confundi-lo com rio, ou com qualquer coisa que seja. Em cada ponta que é sua é outro: ora azul turquesa, ora verde claro, ora cristalino. Sua infinita finitude é reconhecida à distância, sua amplidão faz que seja irmão quase gêmeo do céu. O mar é ator de múltiplas e distintas faces.
O mar é como deve ser. Às vezes frio, congelante; é mistério pro olhar alheio. Mas pode ser quente e delicado, envolvente como um abraço. O mar é singelo. Não é terra, nem é ar: o mar é o caminho do meio.
O mar não tem nascente. Não se pode dizer onde começa ou acaba, pois é rota circular. Há tempos de abundância e a chuva faz festa no espelho deitado da água. E há os tempos sofridos, nos quais o sol só faz que maltrata, parecendo que tudo resseca. Mas sua matéria inevitavelmente renova, pois é a própria origem da vida. O mar, sempre, se recomeça.
Creio que eu, tal qual concha pequena, nasci no ventre do mar. Pois sinto, em cada reencontro, um recaminhar para mim. Pois sinto, a cada quebrar de ondas, a sincronia com as batidas do meu coração. Pois é na água salgado que antevejo, nítido, o meu mais completo reflexo e o meu mais infinito desejo de nadar pra dentro de mim.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/tanto_mar/2015/07/porque-sou-como-o-mar.html#ixzz3hWSs9YL0
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário